Arroba do boi gordo tem queda de 7,80% no mês

Desde o anúncio do tarifaço de 50% às exportações brasileiras, determinado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no dia 9 de julho, o preço do boi gordo registra queda. Naquela data, a cotação da arroba atingia R$ 305 contra R$ 292,65 na segunda-feira, 28 de julho, conforme levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP). Trata-se de uma desvalorização de 4,22%, em 19 dias. A redução ocorre antes mesmo da provável entrada em vigor da sanção tarifária, prevista para o dia 1º de agosto, mas também não pode ser associada exclusivamente à medida imposta por Trump. No mês, de acordo com o Cepea/USP a baixa acumulada é de 7,80%. De acordo com o Cepea, no dia 25, a cotação atingiu o menor valor do ano, de R$ 291,80 para bovinos prontos para o abate. Os Estados Unidos são o segundo maior comprador da carne bovina brasileira, respondendo por 12% das exportações, atrás da China (49%). No levantamento de preços do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPro) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no dia 9, a cotação média do quilo para gado gordo estava em R$ 11 para machos e R$ 9,95 para fêmeas. No dia 23, as cotações haviam baixado para R$ 10,40 e R$ 9,40, respectivamente.

Impactos variáveis

O coordenador do NESPro, Júlio Barcellos, explica que os impactos do tarifaço da Casa Branca no setor pecuarista nacional são variáveis.

“O Centro-Oeste e o Norte do país, onde concentra-se a maior parte dos frigoríficos exportadores, estão sentindo os problemas e isso, imediatamente, se reflete no preço da arroba. No Brasil Central, diminuiu e continua baixando, dia a dia. Por outro lado, no Rio Grande do Sul, que é o nosso foco de estudo, a questão é um pouco diferente”, afirma Barcellos. Conforme Barcellos, a maioria dos frigoríficos no Estado não exporta para os Estados Unidos, com exceção de uma planta industrial em Hulha Negra, produtora de enlatados. De qualquer forma, somente a possibilidade de ingresso de carnes de outros estados em território gaúcho acaba afetando o preço regional do boi gordo.

“Isso é um sinal muito negativo, principalmente num período de entressafra. O pecuarista fez grandes investimentos, acreditando em uma melhora de preço e isso não está ocorrendo”, detalhou o professor da UFRGS.

Barcellos analisou o cenário relacionado ao cliente final.

“Se tiver algum (reflexo) de redução de preço para o consumidor, isso acaba repercutindo em toda cadeia produtiva. O frigorífico recebe menos do varejo. O pecuarista também recebe menos e desintensifica a produção, reduz os investimentos em tecnologia”, diz Barcellos. O coordenador salienta que o cenário pode se agravar em “pouco tempo”, entre seis meses e um ano, com escassez da proteína e consequente aumento de preço para o consumidor. “Tem que ser olhado com muito cuidado para o que está acontecendo”, alertou.

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